Temática 2: A recolha de dados numa investigação
Actividade 2: Métodos e instrumentos de recolha de dados Análise da dissertação relativamente ao uso de questionários como técnica de recolha de dados
- A autora apresenta claramente os objectivos de investigação que presidiram à elaboração do questionário?
- Visando os dois grupos de sujeitos (professores e alunos):
Verificar a facilidade de acesso (ou não) à Internet.
Verificar a frequência de acesso à rede.
Apurar as razões de uma fraca navegação na Internet (se for o caso).
Identificar os interesses que motivam o acesso à rede.
Caracterizar a relação dos dois grupos com a Internet, em termos técnicos.
Identificar as representações que os actores educativos têm acerca dos conteúdos presentes na Rede e sua organização.
Verificar o grau de importância atribuída à Internet.
Averiguar a forma como os alunos realizam uma pesquisa na Internet.- Ainda para os professores
A referência ao uso dos questionários é muito lapidar, sendo, sucintamente, descritos como: constituídos por perguntas fechadas e por questões de escolha múltipla, pretendendo-se que satisfizessem os objectivos propostos. (4. Instrumentalização, pág. 66).
- Na dissertação apresentada há indicação dos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário?
No documento parece não haver qualquer referência aos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário.
- A amostra é claramente identificada?
Quanto à amostra, a mesma é identificada, mas não parece que seja claramente identificada. Há questões que ficam por descrever e que poderiam ser dados importantes garantir a importância do estudo.
- É indicado o método usado na definição da amostra?
"A selecção das escolas onde foram aplicados os inquéritos obedeceu a critérios relacionados com a existência de elos de comunicação, ou seja, colegas que leccionavam nessas mesmas escolas e que, gentilmente, se prontificaram a contactar os conselhos executivos e a distribuir os inquéritos pelos colegas e alunos." Embora este critério não pareça ser o melhor para se fazer a escolha de uma amostra. - Método de amostragem por conveniência (Hill, 2008). No entanto, a autora não indica o método.
- O questionário usado foi objecto de validação prévia?
É apenas feita uma síntese do processo, não sendo por exemplo explicado por que razão a redacção das questões teve de ser reformulada e acrescentada uma delas. Faltando ainda especificar de que questionário se tratava, uma vez que existem dois questionários: um para alunos e outro para professores.
- Na explicitação da metodologia usada há indicações sobre o modo de tratamento dos dados obtidos com a aplicação do questionário?
A entrevista
Yin (2009: 106) considera as entrevistas como "one of the most important sources of case study information" uma vez que a maior parte dos estudos de caso são sobre assuntos que dizem respeito às pessoas. Utilizações
Cohen, Manion e Morrison (2007: 351) referem que a entrevista de estudo pode ser usada- Como principal meio de recolha de informação relacionada com os objectivos da investigação.
- Para testar ou sugerir novas hipóteses.
- Conjuntamente com outros métodos de investigação
- Para investigar resultados inesperados
- Para validar outros métodos
- Para aprofundar as motivações dos respondentese as razões para terem respondido da forma que o fizeram.
- Controlo
- Verificação
- Aprofundamento
- Exploração
Tipos de entrevistas
Parece não haver consenso quanto ao número de tipos de entrevista. Cohen, Manion e Morrison (2007: 352-353) citam vários autores com visões sobre o assunto mas parecem mostrar preferência pela definição de Patton que considera haver quatro tipos: informal conversacional; entrevista guiada; estandardizada aberta e quantitativas fechadas. Ghiglione e Matalon (2001: 64) apresentam um quadro semelhante: entrevista não directiva; entrevista semidirectiva; questionário aberto e questionário fechado. Yin (2009: 107-108), por outro lado, refere três tipos de entrevistas: as em profundidade; focused interviews [entrevistas centradas?] e entrevistas com perguntas mais estruturadas que se assemelham a um questionário.Tipo | Descrição |
Entrevista não directiva | O entrevistador propõe um tema e apenas intervem para insistir ou encorajar. |
Entrevista semidirectiva | O entrevistador conhece todos os temas sobre os quais tem de obter reacções por parte do inquirido, mas a ordem e a forma como os irá introduzir são deixados ao seu critério. |
Questionário aberto | A formulação e a ordem das questões são fixas mas o respondente pode dar uma resposta tão longa quanto desejar. |
Questionário fechado | A formulação das questões, a sua ordem e a gama de respostas possíveis são previamente fixadas. |
Tipo de entrevista | Características | Vantagens | Desvantagens |
Informal conversacional | As perguntas surgem do contexto imediato e são feitas no decorrer da conversa; não existem perguntas predeterminadas. | Aumenta a relevância das perguntas; as entrevistas são construídas e emergem de observações; a entrevista pode ser adaptada para o entrevistado e para as circunstâncias. | Informação diferente é recolhida de diferentes pessoas com perguntas diferentes. Menos sistemática e compreensível se certas perguntas não surgem "naturalmente". A organização e análise dos dados pode ser bastante difícil. |
Entrevista guiada | Os tópicos e questões a serem tratadas são definidas antecipadamente; o entrevistador decide a sequência das perguntas durante a entrevista. | O traçado da entrevista aumenta a compreensão dos dados e torna a sua recolha algo sistemática para cada respondente. Falhas de lógica nos dados podem ser antecipadas e resolvidas. As entrevistas mantêm um estilo conversacional. | Tópicos importantes podem ser inadvertidamente omitidos. A flexibilidade do entrevistador na sequência das perguntas e na sua formulação pode resultar em respostas substancialmente diferentes, reduzindo, assim, a compatibilidade das respostas. |
Estandardizada aberta | A formulação exacta das perguntas é definida antecipadamente. Todos os entrevistados respondem às mesmas perguntas pela mesma ordem. | Como os respondentes respondem às mesmas perguntas aumenta a comparatibilidade das respostas; os dados de cada pessoas em relação aos tópicos da entrevista são completos. Reduz os efeitos e a influência do entrevistador quando são feitas várias entrevistas. Permite aos decisores ver e reverem a instrumentação usada na avaliação. Facilita a organização e análise dos dados. | Pouca flexibilidade; a standardização da formulação das perguntas pode constrangir e limitar a naturalidade e relevância das perguntas e respostas. |
Quantitativa fechada | As perguntas e respostas são definidas antecipadamente. As respostas são fixas; os respondentes escolhem de entre estas respostas pré-definidas. | A análise dos dados é simples; as respostas podem ser comparadas directamente e facilmente agregadas; podem ser feitas muitas perguntas num curto espaço de tempo. | Os respondentes têm de ajustar as suas experiências e sentimentos às categorias do investigador; pode ser vista como impessoal, irrelevante e mecânica. Pode distorcer o que os respondentes realmente queriam dizer ou experienciaram. |
Vantagens, limitações e opções
Segundo Creswell (2009:179), as opções, vantagens e limitações das entrevistas são as seguintes:Opções | Vantagens | Limitações |
Presencial | Útil quando os participantes não podem ser directamente observados | Fornece informação indirecta filtrada através da perspectiva dos entrevistados |
Telefone | Os participantes podem fornecer informação histórica | Fornece informação num lugar designado em vez do local natural |
Focus groups | Permite ao investigador controlar o rumo das perguntas | A presença do investigador pode influenciar as respostas |
E-mail, internet | Nem todas as pessoas têm a mesma capacidade de expressão e percepção |
Entrevista Semi-estruturada
A entrevista pode ser definida como um “processo de interacção social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objectivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”( Haguette, 1997:86, citado por Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, 2005: 72)
As entrevistas podem assumir várias formas: “a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas com grupos focais, história de vida e também a entrevista projectiva “ (Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, 2005: 72).
A entrevista semi-estruturada possui um misto de versatilidade e de facilidade de tratamento dos dados. Esta situação híbrida deriva do facto de nas entrevistas semi-estruturadas, havendo à partida um guião pré estabelecido, é possível também a liberdade desenvolver as respostas da forma que considere adequada, explorando os aspectos considerados mais relevantes.Mas esta forma de fazer a entrevista tem uma grande desvantagem que é a preparação do entrevistador, ou no caso de se realizar em contexto online, realizar um instrumento capaz.Mas tem também inúmeras vantagens, tais como: a possibilidade de aceder a uma grande quantidade de informação; e a possibilidade de esclarecer alguns aspectos da informação prestada, que de outra forma ficavam ocultos.
O processo da entrevista
Creswell (2007) diz que o processo da entrevista pode ser considerado como uma série de oito passos:- Identificação dos entrevistados.
- Determinação qual o tipo de entrevista que será possível e dará ao investigador a melhor informação para poder responder às perguntas da investigação.
- Utilização de equipamento adequado para a recolha dos dados.
- Conceber e usar um protocolo de entrevista.
- Melhorar as perguntas e os procedimentos através de um teste piloto.
- Definir o local da entrevista.
- Depois de chegar ao local da entrevista obter o consentimento do entrevistado para participar no estudo.
- Durante a entrevista não se desviar das perguntas.
Colocar a questão inicial / Objectivo: criar clima de confiança
Saber escutar / Objectivo: dar tempo ao entrevistado para responder
Confirmar / Objectivo: dar feedback ao entrevistado de que está a ser ouvido
Controlar o fluxo da informação / Objectivo: manter o controlo das respostas
Evitar que o entrevistado transmita informações gerais
Guião da Entrevista - Guião
Bibliografia
Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, (2005), Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais , in Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 68-80.
Cohen, L., Manion, L., & Morrison, K. (2007). Research methods in education (6ª ed.). Londres: Routledge.
Creswell, J. W. (2009). Research design: Qualitative, quantitative and mixed methods approaches. Creswell, J. W. (2007). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five approaches. Thousand Oaks, CA: Sage
Ghiglione, R., & Matalon, B. (2001). O Inquérito (4ª ed.). (C. L. Pires, Trad.) Lisboa: Celta.
Miller, J., & Glassner, B. (2009). The "Inside" and the "Outside": Finding Realities in Interviews. In D. Silverman (Ed.), Qualitative research: Theory, methods and practice (2ª ed., pp. 125-139). Los Angeles, CA: Sage.
Vilelas, José (2009) Investigação - O processo de Construção do Conhecimento, Edições Sílabo, pp 284-285
Yin, R. K. (2009). Case study research: Design and methods (4ª ed.). Thousand Oaks, CA: Sage.
Neto, C. (2006). O PAPEL DA INTERNET NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. In repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/
Pereira, A. Investigação e Métodos Quantitativos