Blogue elaborado no âmbito do Mestrado em Pedagogia do E-Learning
Unidade Curricular: Metodologia de Investigação em Contextos Online
Docente: Professora Doutora Alda Pereira

Actividades de Aprendizagem

Tema II



Temática 2:  A recolha de dados numa investigação
Actividade 2: Métodos e instrumentos de recolha de dados 


Análise da dissertação relativamente ao uso de questionários como técnica de recolha de dados
  • A autora apresenta claramente os objectivos de investigação que presidiram à elaboração do questionário?
    • Visando os dois grupos de sujeitos (professores e alunos):
Verificar a facilidade de acesso (ou não) à Internet.
Verificar a frequência de acesso à rede.
Apurar as razões de uma fraca navegação na Internet (se for o caso).
Identificar os interesses que motivam o acesso à rede.
Caracterizar a relação dos dois grupos com a Internet, em termos técnicos.
Identificar as representações que os actores educativos têm acerca dos conteúdos presentes na Rede e sua organização.
Verificar o grau de importância atribuída à Internet.
Averiguar a forma como os alunos realizam uma pesquisa na Internet. Aquilatar o grau de confiança relativamente aos conteúdos que circulam na Internet. Comparar as perspectivas e práticas dos dois grupos alvo.
    • Ainda para os professores
Caracterizar a relação dos alunos com a Internet, sob o ponto de vista dos professores, em termos técnicos e cognitivos. Verificar se os professores ajudam os alunos nas suas pesquisas realizadas na Internet. Depois do que acima se disse, parece que que se deve acrescentar que a autora não apresenta claramente os objectivos da investigação, embora nos 1 e 3, sejam apresentam uns objectivos, no cap.2 quando se faz a contextualização, ou deveria fazer, daquilo que a literatura nos diz sobre o assunto em investigação, não há muita coerência entre os objectivos e a fundamentação da literatura sobre o assunto.
A referência ao uso dos questionários é muito lapidar, sendo, sucintamente, descritos como: constituídos por perguntas fechadas e por questões de escolha múltipla, pretendendo-se que satisfizessem os objectivos propostos. (4. Instrumentalização, pág. 66).
 
  • Na dissertação apresentada há indicação dos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário?
Há lá a indicação telegráfica de uns passos, mas muito genéricos. Não há a referência a nenhum estudo que justifique a fundamente a opção tomada. Parece-me que o inquérito caiu ali ‘de pára-quedas’. Considero que um inquérito, como qualquer recolha de dados, tem de ajudar a ampliar o conhecimento que já se tem com a literatura existente. Por isso, a meu ver, a exposição que faz a seguir ao tratamento do inquérito tem pouco a ver com os resultados.
No documento parece não haver qualquer referência aos passos que estiveram subjacentes à construção do questionário.
  • A amostra é claramente identificada?
Relativamente à amostra a investigadora indica que é constituída por 350 alunos, com idades entre os 13 e os 15 anos, e 110 professores de 5 escolas pertencentes à Direcção Regional de Educação do Norte
Quanto à amostra, a mesma é identificada, mas não parece que seja claramente identificada. Há questões que ficam por descrever e que poderiam ser dados importantes garantir a importância do estudo.
  • É indicado o método usado na definição da amostra?
"A selecção das escolas onde foram aplicados os inquéritos obedeceu a critérios relacionados com a existência de elos de comunicação, ou seja, colegas que leccionavam nessas mesmas escolas e que, gentilmente, se prontificaram a contactar os conselhos executivos e a distribuir os inquéritos pelos colegas e alunos." Embora este critério não pareça ser o melhor para se fazer a escolha de uma amostra. - Método de amostragem por conveniência (Hill, 2008). No entanto, a autora não indica o método.
  • O questionário usado foi objecto de validação prévia?
Foi elaborada uma primeira versão que, após ter sido submetida a 20 alunos e 10 professores, foi corrigida ao nível da forma e dos conteúdos.
É apenas feita uma síntese do processo, não sendo por exemplo explicado por que razão a redacção das questões teve de ser reformulada e acrescentada uma delas. Faltando ainda especificar de que questionário se tratava, uma vez que existem dois questionários: um para alunos e outro para professores.
 
  • Na explicitação da metodologia usada há indicações sobre o modo de tratamento dos dados obtidos com a aplicação do questionário?
Para análise estatística recorreu-se á Folha de cálculo Microsoft Excel, sendo os resultados apresentados, sempre que útil, na sua perspectiva percentual. A autora indica, na página 67, o programa usado de computador usado para a análise estatística, referindo que os resultados foram apresentados na sua perspectiva percentual, sempre que tinha sido considerado útil. Serão indicações suficientes para descrever o processamento dos dados resultantes de questionários?

A entrevista

Yin (2009: 106) considera as entrevistas como "one of the most important sources of case study information" uma vez que a maior parte dos estudos de caso são sobre assuntos que dizem respeito às pessoas.

Utilizações

Cohen, Manion e Morrison (2007: 351) referem que a entrevista de estudo pode ser usada
  1. Como principal meio de recolha de informação relacionada com os objectivos da investigação.
  2. Para testar ou sugerir novas hipóteses.
  3. Conjuntamente com outros métodos de investigação
    1. Para investigar resultados inesperados
    2. Para validar outros métodos
    3. Para aprofundar as motivações dos respondentese as razões para terem respondido da forma que o fizeram.
Ghiglione e Matalon (1978: 85) referem aproximadamente as mesmas utilizações mas com outros nomes:
  1. Controlo
  2. Verificação
  3. Aprofundamento
  4. Exploração

Tipos de entrevistas

Parece não haver consenso quanto ao número de tipos de entrevista. Cohen, Manion e Morrison (2007: 352-353) citam vários autores com visões sobre o assunto mas parecem mostrar preferência pela definição de Patton que considera haver quatro tipos: informal conversacional; entrevista guiada; estandardizada aberta e quantitativas fechadas. Ghiglione e Matalon (2001: 64) apresentam um quadro semelhante: entrevista não directiva; entrevista semidirectiva; questionário aberto e questionário fechado. Yin (2009: 107-108), por outro lado, refere três tipos de entrevistas: as em profundidade; focused interviews [entrevistas centradas?] e entrevistas com perguntas mais estruturadas que se assemelham a um questionário.
Tipo
Descrição
Entrevista não directiva
O entrevistador propõe um tema e apenas intervem para insistir ou encorajar.
Entrevista semidirectiva
O entrevistador conhece todos os temas sobre os quais tem de obter reacções por parte do inquirido, mas a ordem e a forma como os irá introduzir são deixados ao seu critério.
Questionário aberto
A formulação e a ordem das questões são fixas mas o respondente pode dar uma resposta tão longa quanto desejar.
Questionário fechado
A formulação das questões, a sua ordem e a gama de respostas possíveis são previamente fixadas.
Cohen, Manion e Morrison (2007: 353) apresentam o seguinte quadro com as vantagens e desvantagens de cada um dos tipos de entrevistas.
Tipo de entrevista
Características
Vantagens
Desvantagens
Informal conversacional
As perguntas surgem do contexto imediato e são feitas no decorrer da conversa; não existem perguntas predeterminadas.
Aumenta a relevância das perguntas; as entrevistas são construídas e emergem de observações; a entrevista pode ser adaptada para o entrevistado e para as circunstâncias.
Informação diferente é recolhida de diferentes pessoas com perguntas diferentes. Menos sistemática e compreensível se certas perguntas não surgem "naturalmente". A organização e análise dos dados pode ser bastante difícil.
Entrevista guiada
Os tópicos e questões a serem tratadas são definidas antecipadamente; o entrevistador decide a sequência das perguntas durante a entrevista.
O traçado da entrevista aumenta a compreensão dos dados e torna a sua recolha algo sistemática para cada respondente. Falhas de lógica nos dados podem ser antecipadas e resolvidas. As entrevistas mantêm um estilo conversacional.
Tópicos importantes podem ser inadvertidamente omitidos. A flexibilidade do entrevistador na sequência das perguntas e na sua formulação pode resultar em respostas substancialmente diferentes, reduzindo, assim, a compatibilidade das respostas.
Estandardizada aberta
A formulação exacta das perguntas é definida antecipadamente. Todos os entrevistados respondem às mesmas perguntas pela mesma ordem.
Como os respondentes respondem às mesmas perguntas aumenta a comparatibilidade das respostas; os dados de cada pessoas em relação aos tópicos da entrevista são completos. Reduz os efeitos e a influência do entrevistador quando são feitas várias entrevistas. Permite aos decisores ver e reverem a instrumentação usada na avaliação. Facilita a organização e análise dos dados.
Pouca flexibilidade; a standardização da formulação das perguntas pode constrangir e limitar a naturalidade e relevância das perguntas e respostas.
Quantitativa fechada
As perguntas e respostas são definidas antecipadamente. As respostas são fixas; os respondentes escolhem de entre estas respostas pré-definidas.
A análise dos dados é simples; as respostas podem ser comparadas directamente e facilmente agregadas; podem ser feitas muitas perguntas num curto espaço de tempo.
Os respondentes têm de ajustar as suas experiências e sentimentos às categorias do investigador; pode ser vista como impessoal, irrelevante e mecânica. Pode distorcer o que os respondentes realmente queriam dizer ou experienciaram.

Vantagens, limitações e opções

Segundo Creswell (2009:179), as opções, vantagens e limitações das entrevistas são as seguintes:
Opções
Vantagens
Limitações
Presencial
Útil quando os participantes não podem ser directamente observados
Fornece informação indirecta filtrada através da perspectiva dos entrevistados
Telefone
Os participantes podem fornecer informação histórica
Fornece informação num lugar designado em vez do local natural
Focus groups
Permite ao investigador controlar o rumo das perguntas
A presença do investigador pode influenciar as respostas
E-mail, internet

Nem todas as pessoas têm a mesma capacidade de expressão e percepção

Entrevista Semi-estruturada

A entrevista pode ser definida como um “processo de interacção social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objectivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado”( Haguette, 1997:86, citado por Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, 2005: 72)
As entrevistas podem assumir várias formas: “a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas com grupos focais, história de vida e também a entrevista projectiva “ (Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, 2005: 72).
A entrevista semi-estruturada possui um misto de versatilidade e de facilidade de tratamento dos dados. Esta situação híbrida deriva do facto de nas entrevistas semi-estruturadas, havendo à partida um guião pré estabelecido, é possível também a liberdade desenvolver as respostas da forma que considere adequada, explorando os aspectos considerados mais relevantes.Mas esta forma de fazer a entrevista tem uma grande desvantagem que é a preparação do entrevistador, ou no caso de se realizar em contexto online, realizar um instrumento capaz.Mas tem também inúmeras vantagens, tais como: a possibilidade de aceder a uma grande quantidade de informação; e a possibilidade de esclarecer alguns aspectos da informação prestada, que de outra forma ficavam ocultos.

O processo da entrevista

Creswell (2007) diz que o processo da entrevista pode ser considerado como uma série de oito passos:
  1. Identificação dos entrevistados.
  2. Determinação qual o tipo de entrevista que será possível e dará ao investigador a melhor informação para poder responder às perguntas da investigação.
  3. Utilização de equipamento adequado para a recolha dos dados.
  4. Conceber e usar um protocolo de entrevista.
  5. Melhorar as perguntas e os procedimentos através de um teste piloto.
  6. Definir o local da entrevista.
  7. Depois de chegar ao local da entrevista obter o consentimento do entrevistado para participar no estudo.
  8. Durante a entrevista não se desviar das perguntas.
Durante a entrevista
Colocar a questão inicial / Objectivo: criar clima de confiança
Saber escutar / Objectivo: dar tempo ao entrevistado para responder
Confirmar / Objectivo: dar feedback ao entrevistado de que está a ser ouvido
Controlar o fluxo da informação / Objectivo: manter o controlo das respostas
Evitar que o entrevistado transmita informações gerais


Guião da Entrevista - Guião

Bibliografia

Boni, Valdete e Quaresma, Sílvia, (2005), Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências Sociais, in Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC, Vol. 2 nº 1 (3), janeiro-julho/2005, p. 68-80.
Cohen, L., Manion, L., & Morrison, K. (2007). Research methods in education (6ª ed.). Londres: Routledge.
Creswell, J. W. (2009). Research design: Qualitative, quantitative and mixed methods approaches. Los Angeles, CA: Sage.
Creswell, J. W. (2007). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five approaches. Thousand Oaks, CA: Sage
Ghiglione, R., & Matalon, B. (2001). O Inquérito (4ª ed.). (C. L. Pires, Trad.) Lisboa: Celta.
Miller, J., & Glassner, B. (2009). The "Inside" and the "Outside": Finding Realities in Interviews. In D. Silverman (Ed.), Qualitative research: Theory, methods and practice (2ª ed., pp. 125-139). Los Angeles, CA: Sage.
Vilelas, José (2009) Investigação - O processo de Construção do Conhecimento, Edições Sílabo, pp 284-285
Yin, R. K. (2009). Case study research: Design and methods (4ª ed.). Thousand Oaks, CA: Sage.
Neto, C. (2006). O PAPEL DA INTERNET NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO. In repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/
Pereira, A. Investigação e Métodos Quantitativos